domingo, 21 de junho de 2009

Vênus

Dois namorados discutem, reagem, lutam em suas frentes de batalha. É guerra. E como toda guerra, é injusto o passar do tempo. Descontrolado, ele lança a mão ao vento e num bofetão orquestrado põe-se na razão da fúria sem pensar duas vezes. Ela não reage. O tempo para. Paralisado, ele a vê pálida sob a cinza lua, seus cabelos balançando ao vento, seu semblante cru refletindo as cores da noite na rua central, cores quentes e frias diluindo o vermelho das faces. Sob as luzes das boates, ela muda de cor. Muda a cor da pele, dos cabelos e dos olhos. Ela é só rosto. Todos em um.

Não se sabe se ela ri, chora ou luta. Sabe-se que ela muda a cor da sua face blasé. O momento que gostaria de esquecer, seu erro, sua injúria. Ela, estática. Imóvel, absolutamente pura no meio de todo o resto da humanidade. Ele a ama, de fato, por sentir que o bofetão doeu mais na alma dele do que na dela. Por saber que sem ela seu mundo seria daltônico-manco e que nada apagaria da face dela o rubor do tapa que ele proferira.

Por fim, no interminável nascer do dia ele descobre que ela ganhou a guerra sem desperdiçar nenhuma munição. Ela é, por si só, uma deusa que suporta o erro do homem, mas jamais o esquecerá. É dela o amor ou o ódio e é ao redor dela que o mundo gira.

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