terça-feira, 2 de junho de 2009

Texto Rebeca inspirado na pintura de Dalí

Adriana e Fernando eram casados há 7anos. Depois do ininterrupto investimento em cursos de graduação, mestrado, doutorado, NBA, línguas, viagens e tudo aquilo que hoje não assegura, mas é primordiais ao candidato que não quer ficar fora do mercado de trabalho; da compra do apartamento num bairro de classe média alta em São Paulo- Capital; de um chalezinho em Campos de Jordão onde passavam os fins de semana; carro do ano; pequenas compras em obras de arte, obedecendo aos pais dele, que o incentivavam a esse tipo de investimento. Em comum acordo, decidiram que estava na hora de terem um filho.
Ela abandonou a pílula e começaram a praticar sexo com freqüência, mais do que o faziam anteriormente. Era um sexo físico, anímico e espiritual: cheio de pornografia, amor, escândalo, palavras esdrúxulas, horários indevidos para um casal que trabalhava doze horas por dia e principalmente em lugares proibidos. Inúmeras vezes saiam do trabalho para se encontrar num motel, nas escadas escondidas dos shoppins centers, até nos banheiros de restaurantes, nos elevadores, não tinham censura para praticar o que mais gostavam, pensando na vinda do filho. Certo dia, o chefe de Fernando, desconfiado de suas saídas constantes, insinuou se ele tinha uma amante.
Fora isso, todas as noites o exercício do prazer se fazia presente e muitas vezes, pediam uma pizza para não perderem tempo em esquentar a refeição, por a mesa, lavar os pratos; dormiam exaustos e perdiam a hora no dia seguinte. Mas sempre valia a pena, diziam satisfeitos!
O que Adriana mais gostava depois de certificar-se que ele havia ejaculado dentro dela, era na próxima engolir seu sêmen, pois isso tinha um gostinho de intimidade, de aceitação, de ser especial, que levada os dois ao delírio! Depois então que buscou informações que o sêmen tem valor nutricional e calórico de 6 calorias e que é rico em proteínas, servindo até mesmo como uma ótima máscara facial, ficou empolgada até demais.
Começaram a ficar experientes e organizados que além de praticarem,
liam livros, teses, documentários, filmes de:
de Kama-Sutra;
orgasmos;
sexualidade;
planejamento familiar;
possibilidades de posições inimagináveis;
a importância de uma boa lubrificação;
a busca do ponto G;
a introdução dos acessórios e dos objetos usados com imaginação que provocam e estimulam fantasias;
sexo oral;
a higiene como tópico crucial;
as preliminares bem feitas;
as informações para o sexo seguro;
a beijo como elemento verdadeiro;
o conhecimento anatômico do corpo humano;
etc, etc, etc ..................
Após dois anos de tentativa frustrada para o tão esperado filho, a relação amorosa e sexual apimentou a união de tal forma, que estavam decididos a largar o emprego e abrir uma “escola” de sexologia para casais, com o intuito de destruir os mitos que cercam o sexo e introduzir um programa prático para alcançar o prazer sexual por anos, sem cair na banalidade, no artificialismo, no cotidiano muitas vezes repetitivo.
Diziam que o sexo é visto, com freqüência, como algo barato, sujo e imoral. Queriam com os grupos que tencionavam formar, mostrar que independentemente das crenças religiosas ou morais, qualquer casal pode e deve praticar sexo, desde que, respeitem a si próprios e seus parceiros, tenham pleno entendimento de todas as conseqüências possíveis e não temam em praticar nada, tendo a consciência de que a sexualidade, a sensualidade, o amor e tudo que você toca, vê, sente, prova e cheire é num encontro amoroso, muito mais que a penetração. Na relação sexual está também a atitude, o estilo pessoal, o corpo e o respeito que envolve o ato numa sublimação vibrante e poética.
Numa noite os dois coincidentemente, haviam decorado uma poesia erótica para dizer ao outro durante o sexo. Estavam em total sintonia, que as poesias escolhidas por ambos, terminavam com a mesma palavra: equilíbrio. Nem se tivessem combinado. O prazer era carnal, oral, visual, auditivo, epidérmico e também espiritual.
A vontade era tanta de ter um filho que além das posses e do conhecimento marcaram consulta com um especialista em reprodução humana.
As tentativas foram inúmeras, durante dois anos sucessivos.
Quando desistiram, depois de dois meses, veio o inesperado: ela estava grávida.
Foi uma gravidez difícil e cheia de cuidados.
Durante os noves meses, os dois se uniram ainda mais. Agora tudo girava em torno da chegada do bebê. Desvencilharam-se de muita coisa, pois o quarto que era escritório, agora estava sendo todo decorado com sofisticação, arte e cuidado para a vinda do bebê.
Até para escolha do nome, buscavam recursos na astrologia, numerologia e psicologia. Caso nascesse menina tinham escolhido Vênus, para menino ainda não tinham um nome definido.
Ao completar nove meses, Adriana começou a ter contrações. A família toda foi para a maternidade: levaram máquinas, câmaras, telefones celulares, filmadoras, tudo para registrar o grande e esperado momento.
Porém, na maternidade, o obstetra não autorizou na sala de parto, nenhum membro da família, somente a mãe.
Depois de duas horas, o médico foi à sala de espera onde todos o aguardavam ansiosos.
Fernando foi o primeiro a perguntar:
- Como é doutor, meu filho nasceu?
- Sim, respondeu o médico.
- Ele é parecido com quem? Eu ou a mãe?
- Você sabe, bebê muito pequeno não tem ainda um rosto definido.....
- Mas me fale, é menino ou menina?
- Infelizmente, nasceu sem sexo.
- Então me diga: tem meus olhos ou são azuis como os da mãe?
- Devo afirmar que seu filho nasceu sem olhos.
- Não tem importância. Conte-me: os lábios são carnudos como os meus?
- Perdoe-me, mas seu filho também nasceu sem boca.
- E os bracinhos: são gordinhos? Tem mãozinhas? E dedinhos?
- Acho que serei repetitivo. Mas seu filho nasceu sem braços e pernas.
- Doutor, fala sério!!!! Como é meu filho?
- Você conhece o quadro de Salvador Dali, O Nacimento de Vênus?. É igual.
- Coincidência doutor! Tínhamos escolhido esse nome, se nascesse menina.
O coração parou cerca de uma hora depois.
O nome escolhido para o atestado de nascimento e óbito para aquele “pedaço de corpo” foi Vênus.
O episódio causou em Adriana e Fernando a esperança de se entregarem para crianças de todas as idades.
O casal desistiu dos empregos e da escola de sexologia.
Venderam tudo que tinham.
Compraram uma chácara no interior de São Paulo e adotaram gêmeos.
Cercados de verde, uma vaca, três cachorros, um porco, inúmeras galinhas, um casal de pavões, duas tartarugas, o rio que atravessava o terreno, o céu limpo de dia e estrelado a noite, um canteiro cheio de violetas e bromélias e um pomar rico em diversidade e quantidade, eram muito felizes.
Após 20 anos tinham 11 filhos e dois netos e não pensavam em parar por aí................................

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