terça-feira, 2 de junho de 2009

Maria

Vivia no sul do país
trabalhava na secretaria
era moça de família
tinha lá sua raiz.

Pelo chefe apaixonou-se
E dele se engravidou.

Mudou-se para S. Paulo
Fugindo do preconceito
Da cidade do interior.

Hospedou-se em minha casa
Era eu uma criança
tinha lá meus quinze anos.

Acompanhei o seu drama
vendo a barriga crescer
com ninguém pra dividir
o fruto dessa aventura.

Os dias foram passando
e o dilema aumentando
dar ou ficar com o filho?

Se desse teria culpas.
Se ficasse o que seria?

Saímos todos de férias
ficou ela aguardando
o dia do desenlace.

- Seria homem ou mulher?
- Seria louro ou moreno?
- Com quem se pereceria?
- O que seria de nós?

Ligou da maternidade
pediu minha companhia
e assim voltou para casa:
nas mãos a mala vazia
no peito o leite e a dor
na barriga a cicatriz.

Se não dormia chorava.
Do seio escorria o leite
juntando-se às suas lagrimas.
Ria.

Assim ficamos nós duas
fechadas em minha casa
Noite e dia.

Lá fora o mundo corria
cá dentro amadurecia
eu, ainda menina,
fazendo-lhe companhia.

Fiquei mulher de repente.
De tão triste envelheci.
Eu penso até que morri.

Ora eu era mãe.
Ora eu era criança.

Contei tudo que sabia
de engraçado e encantador
pretendendo aliviar
a falta que lhe fazia
o motivo de tanta dor.

Parecia tudo em vão.
Era grande a solidão.

Foram-se os dias passando
a barriga foi murchando
as lágrimas foram secando,
os seios se esvaziando.

Maria arrumou as malas
beijou-me na despedida
entrou no táxi e se foi
deixando em meu coração
tão funda recordação.

Só muitos anos mais tarde
senti no próprio corpo
o que é ter os peitos cheios
e os braços tão vazios!

Maria, que frustração!
Maria, onde andará?

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