segunda-feira, 15 de junho de 2009

Eu vim, e você me tomou pa si. Corri, fugi pra dentro.
Teu frio sossegado, pequenas variações afora os dias de tempestade.
Criei em ti uma trilha e todos terminaram por adivinhar uma terceira margem tua.
É minha hoje, unicamente, essa terceira.
Fui eu que nos entremeios do meu sofrimento e delírio - também eu tive um pai - criei a minha raia. Tão particular e tão exclusivamente escancarada.
Olha, faz saltar os teus peixes, encena o espetáculo dos troncos arrebatados pra, quem sabe, eu fazer menos vista entre aqueles que foram meus.
É esse um homem que escolheu a solidão de estar em sua mais profunda raiz. Eu vim daqui, meu pai veio, e veio o pai do meu pai.
Nada eu tive de garantia. Nada de abrigo. Não deve ser o meu filho a seguir esse caminho.
Escute, estou te pedindo, espero há tantos anos.
Me ofereci pra que você me engolisse tempos atrás, pra passar de mim pra você a responsabilidade da minha sina. Assim foi com eles, os de antes de mim, desde que estamos aqui.
Pois bem, me ouça, olha, me devore.
Me dê um destino de morto encharcado
desaparecido pelo fim eterno da sua minha terceira margem
pra quando me olhar o meu filho
ele que também tanto espera
quando ele me enxergar translúcido
e sete palmos acima da água
possa ele correr com a velocidade de um velho filho
e romper com esse fardo
e morrer em terra firme seca
e dar cabo dessa nossa linhagem parda, maldita e sem razão.

Um comentário: