quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Vazios, álgebra e números.

Quando nasci recebi um número que anotaram no caderninho da enfermagem e no bracelete. Nem precisava, feio do jeito que eu era (melhorei um pouquinho)por certo não iriam me confundir com outro. Mas talvez fosse o desejo de minha mãe: que trocassem mesmo!
Era pequeno, não eu, o número.
Depois que meu pai decidiu me assumir, veio a certidão de nascimento e... com ela mais um número.
Quando entrei no jardim de infância me deram outro número. Não me recordo.
Sei que foi ímpar.
Cheguei na escola: muitos números. O da Faculdade me lembro: 2.437.
Ganhei um novo quando saí: o do conselho federal profissional. Esse número não é tão grande quanto o registro de identidade, o CPF, carteira de trabalho; título de eleitor então, nem se fale: um número enorme.

Depois veio a carteira de habilitação junto com meu primeiro carro: Uma Variante WV, marrom e com bagageiro no topo. Veio o número da placa do carro também e o IPVA, Seguro, certificado de propriedade, certificado de transferência etc. Tá certo que era do carro, mas como gostava demais dele era como se fosse um número meu.
Logo tive o número da conta do banco, o número da agência, a senha da internet, do caixa eletrônico.

Ah, não posso esquecer do número do cartão do SUS e também do meu plano de saúde. Lá também tenho duas senhas: uma para cadastramento e acesso ao site e outra para recuperar exames na WEB.
Lógico que não poderiam faltar os números de meu telefone celular, residencial, da Faculdade, do Hospital, da clínica e da minha mãe, irmãs, tios...ufa...e eles também tem vários números como eu.

Ao me unir, atestaram meu casamento com uma certidão. Esta também tem um número e meu filho também recebeu um quando nasceu.

Eu tenho um número que o Tarot e a cartomante me contaram: só que não posso falar, pois é segredo. Se contar quebra o encanto. Só eu sei(e a cartomante, é claro).

Os dias são números; os anos e os meses.
Meu apartamento tem um número; meu condomínio também. Moro no quinto andar. Minha senha no edifício é 01234.

Estou, com certeza, numerado no IBGE, na SEPLAN, no IBOPE; tenho um passaporte numerado pela Polícia Federal e alguns outros números para o PIS, PASEP, FGTS, INSS e COFINS.

Tenho um cartão cidadão que me numera e numera minha senha. Há outro, também numerado, do MEC para Professores.
Recebi um número de série que se conta pelas marcas de minhas mãos segundo o vidente e rugas na face segundo a Acupunturista.

Além de meu certificado de óbito, lá na frente, prefiro antes, vou ter um chip instalado para poder trocar de operadora de meus movimentos e tremores; tendões e medos.

Meu assento no trem da vida é algo secreto. O número da minha carteira de sócio no clube e a cadeira para o jogo final de campeonato, também não conto.
Não conto prá vocês, mas conto no cômputo geral de minha aritmética vazia.

Conto com vocês para dizer com que número, afinal, pareço.
Nas estatística dos amigos e chegados não sei que número vou alcançar.
Diga-me, por favor, amigo, com que número pareço.
Seria o quatro? O oito? O sete?

Alguém me disse que sou inumerável.
Gostei, pois me parece mais qualitativo.
É muito, contudo.
Prefiro ser um "não-Um".

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Tatouage

Tatouage
Sur le bord de la peau et dans l'amalgame, mais au fond de son âme et l'esprit du poumon.

pour mauriceetsantos,2009

domingo, 1 de novembro de 2009

in-pax-scientiae

in-pax-ciência









in pacto não-pactoin divíduo
não-divido
in certeza
sim-duvido
in tolerência não-toleroin discutível
não-discuto
in separável
não-separo
in corporado sim-corpoin teligível
não-entendo
in variável não-vario



O encontro foi pacto. Pois eu e ela somos divíduos: duvidamos. Toleramos nossas discussões. Quando separamos nossos corpos não entendemos porque variamos

sábado, 31 de outubro de 2009

tardezinha



bymauriceet&7santos

Ficaram ali,
os tres pendurados:
um secou a louça,
o do meio as mãos e
o outro prá enfeitar o quintal




.

Ambulante



bymauriceet7&santos,2009




Ambulante, sou um viajador. Calejado camelot.
Passeio pelas calçadas da mente.
Valente com aguardente.
Beberagem
e tanta bobagem...querela.
Um pescador nômade,
pesco nos trilhos
e nas trilhas.
Pesco no ônibus e bato a cabeça...na janela.
Acordo intermitente e discordo imediatamente:
ectópico e anecóide.

Fizeram de minha mente um ultrassom.
Ela mentiu: não é nada daquilo. O laudo apresentou: cavidade com superfície irreconhecível mas dentro da normalidade; variações lúcidas bilaterais; rins com parênquima e contornos fisiológicos. Ausência de medos a juzante. Contudo há sinais de invariância, digo, mente sem morada: necessário comprovante de endereço. Anda pelada. A vontade por entre os cubóides, acrômios e vasos comunicantes; de um corpo só: o "não-Um". Mente com características urbana, branquígena e indígena. Ambígua. Anedótica, bem humorada e ventilada. Luz a pino:
Souls-tício.
Continuo na espera, mas não na esperança. Portanto esperanço. Moleza pequena.
Mamolengo, adormecido e como diz Pape, na alternança...na variança.



Minha variante é a que passa pelos nós urbanos, do Itaim Bibi à Ferraz de Vasconcelos, via Madalena!





.bymauriceet&7santos,2009

terça-feira, 30 de junho de 2009

EU SÃO PAULO

Sou apenas um – um homem só
do tamanho de um corpo
do tamanho do meu corpo
do tamanho do corpo imenso de uma cidade
sou uma cidade
correndo o tempo todo dentro de mim
o sangue correndo pelas avenidas inquietas
cada célula cada carro cada gente
mais de dez milhões de vidas correndo em mim
nunca parando nunca parando
nem mesmo dormindo eu paro
nem dormindo minha cidade para
na minha terra cinza em que não se planta nada
além de sonhos e de histórias
reconstruídos a cada enchente
minha cidade esculpida a temporais
de cada canto um grito
de cada grito um canto de andorinha
as crianças os cachorros os dejetos
o olhar de lado o olhar de frente o olhar para trás
tudo sempre cabendo no mesmo vão agora
como os que vão mais rápido que a Hora
como os que a retardam
como os que jamais saberão de onde vêm
e que aqui estão
correndo até o cansaço de calor ou frio
correndo de susto de surto ou de furto
apenas isso que é correr
para chegar ao não-limite de ser
e caber no terreno úmido das várzeas
fincar-se sem poder plantar
cada braço um logradouro
cada flor uma despedida
sendo um em mais de dez milhões que me olham
com a indiferença desconcertante do irmão
meu desejo mais terno
minha intermitente desilusão
os carros transitando entre as duas calçadas
do que escrevo
eu que também ergui as raízes do meu sonho em mim
do tamanho imensurável do meu corpo
do tamanho da minha cidade

CAIXA

Sou o que me fecho em cada lado, guardado no escuro do claro, no duro fim em si de ser o que contenho e não ser nada além do que guardo, a sombra do muro que sou. Tenho a forma do que me querem, e assim o que querem é o que quero, toda forma de coração, leve no estar-parado, até mãos ou olhos me ressuscitarem para a ausência de quem sou. Sou o que me são. E não digo mais porque repito. Ninguém se lembra de mim a não ser que eu me abra aos meus segredos. Quando me abro, sou o que procuram em mim -- meu nome é provisório demais para ser meu. E isso é tudo em si, meu estar-compacto em mim.