terça-feira, 19 de maio de 2009

BLASÉ

(Ali, deitada, divagou: se fosse eu teria escolhido lírios)
Adorada, sim.
Roupas espalhadas pelo chão, estojo Tiffany numa mesinha de cabeceira; garrafa de champagne brut emborcada no balde de gelo; uma taça intacta num criado mudo e a segunda no chão, junto de um escarpin de seda molhada, numa poça espumosa sobre o carpete marfim
Ele, num ronco suave, deitado sobre um ombro, a mão sobre o mamilo dela, ainda rijo. E aquele mundaréu de rosas, dúzias e dúzias, em dezenas de vasos espalhados pelo quarto apagado.
Adorada, sim.
Seu corpo nu reage a um inesperado calafrio, narinas tremulas, bochechas ligeiramente infladas prontas a soprar o excesso daquele aroma invasivo, tingido de carmim.
No teto branco, única claridade visível, busca uma imagem de sua infância: flores brancas, pétalas recortadas desvendando pistilos amarelados, no altar da santa a quem, vez por outra, dedicava suas comunhões.

Bruna

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